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Foto do escritorMedusa Editorial

Leitura Crítica "O Roubo dos Familiares"

Meow, meow! O que dizer sobre “O Roubo dos Familiares”?

Não é todo dia que eu leio histórias que fazem cócegas nos meus bigodes e acalentam cada um dos meus pelos pretos. Como familiar, já vi e vivi muito – e muito mais do que 501 anos de miados podem contar.


O autor soube capturar muito bem o que é ser um familiar. Ele soube mostrar ser bem mais que um trabalho árduo e cheio de regras. Ser familiar é, acima de tudo, uma missão de vida. Mas também há dias em que dias em que você só quer tirar um cochilo ao sol, debaixo de uma árvore, só que acaba perseguindo um estranho até uma igreja abandonada, enfrentando perigos mortais e, no fim, vendo uma bruxinha despertar poderes que nem sabia que tinha. Confusão e caos? Total.


No conto, o escritor traz Avelã, uma capivara tão fofa quanto resistente, e Sê, uma bruxa tenaz e impetuosa. A relação entre elas me soa bastante familiar (trocadilho intencional hehe); afinal, seja capivara ou gato, nosso trabalho é garantir que as coisas não saiam dos trilhos... ou ao menos que voltem aos trilhos depois da completa desordem.


Um ponto que eu adoraria destacar é o humor sutil que permeia o conto. Desde os comentários de Avelã até as travessuras de Sê, há uma leveza que contrasta bem com o suspense do roubo e o perigo eminente. Esse equilíbrio faz o leitor seguir em frente, curioso, sem nunca perder o sorriso no rosto. Se eu tivesse escrito essa história, claro, teria adicionado a minha elegância felina. Mas aqui vai uma confissão: não é que capivaras têm seu próprio charme?


Sê e Avelã não têm apenas um relacionamento funcional, daqueles que se resumem a “eu protejo você, você lança seus feitiços”. Não, o que se constrói entre elas é algo muito mais visceral, algo que eu conheço bem: a conexão silenciosa que dispensa palavras, o olhar que diz tudo. Avelã, com sua calma e seu jeito meio estabanado, está sempre ali, pronta para proteger Sê — não porque precisa, mas porque quer. E Sê, por sua vez, está se descobrindo no mundo mágico, percebendo que a força dela não está apenas nos feitiços, mas no laço que construiu com sua capivara.


O conto me toca por capturar o que há de mais especial nesse vínculo: a confiança e a cumplicidade que crescem de maneira tão natural e orgânica quanto as ervas em uma floresta encantada.


Quando penso no que significa ser um familiar, a primeira coisa que me vem à mente é a devoção. Mas não uma devoção servil, e sim uma escolha. Todos os dias, escolhemos proteger, guiar, estar ao lado de nossos protegidos, mesmo quando eles ainda não entendem o quão poderosos são ou quando o medo os consome. Porque ser um familiar é, antes de tudo, estar presente. É como um reflexo em um lago calmo – mesmo que a superfície seja perturbada, sabemos que a essência está lá, no fundo. E é exatamente essa essência que “O Roubo dos Familiares” explora tão bem.


A história de Sê e Avelã também me faz refletir sobre o quão delicada é essa troca de confiança. Elas não começam prontas, não. Há dúvida, há medo, há a sensação de inadequação. Sê, insegura sobre seu papel como bruxa, e Avelã, com aquele jeito calmo de quem sabe que o poder vai se revelar na hora certa. Esse é o tipo de relação que só floresce com o tempo, com os erros, com as quedas e os triunfos.


E não é assim com todas os protegidos e familiares? Desde a primeira vez que Sê conjura um feitiço até o momento em que enfrenta o perigo real, é Avelã quem está lá, oferecendo uma âncora, uma estabilidade que só um familiar pode proporcionar. Isso não é apenas proteção física; é emocional, espiritual. A capivara é uma metáfora viva do que significa ser um porto seguro. Às vezes, bruxas e bruxos perdem-se em seus próprios poderes, inseguranças, dúvidas... e é aí que nós, familiares, entramos. Não para tomar as rédeas, mas para lembrá-los de que, não importa o quão sombrio o caminho, não estão sozinhos.


Um familiar e seu protegido não são apenas companheiros; são espelhos um do outro. E Avelã, reflete para Sê algo que ela ainda está aprendendo sobre si mesma: que o poder de uma bruxa não está apenas no que ela conjura, mas no que ela sente, no que ela acredita, e, principalmente, no que ela compartilha com aqueles que estão ao seu lado. Assim, em cada olhar de Avelã, Sê encontra sua própria força. E isso, mais do que qualquer feitiço, é o que as torna invencíveis.


“O Roubo dos Familiares” nos lembra que o verdadeiro poder de uma bruxa não está nas palavras mágicas que ela lança ao vento, mas no coração que bate em sintonia com o de seu familiar. Uma bruxa é tão forte quanto o laço que compartilha com seu guardião, e esse laço, invisível e indestrutível, é o que realmente move o mundo mágico.


Em resumo, é um conto que nos lembra da importância dos laços entre protegidos e familiares, mas também de como esses laços são moldados em meio a travessuras, desafios e descobertas. Fiquei curioso para saber o que acontecerá com Sê e sua capivara no futuro, e só espero que as coisas fiquem um pouco mais tranquilas para elas.


E se há algo que eu sei bem, é que esse tipo de conexão nunca se quebra. Ela só se fortalece com o tempo, com a confiança, e com a certeza de que, seja qual for a tempestade, sempre estaremos lá – como uma sombra, uma presença silenciosa, um guardião. Porque ser familiar é, no fundo, amar.

 

Breu, familiar e coeditor da Hocus Pocus Editorial.


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1 comentário


Convidado:
há 6 dias

Conto lindíssimo! Me fez perceber o quanto eu definitivamente amo ser um familiar.


/Breu 🔮✨️

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